Shadow Man Remastered | Um clássico ressuscitado

Jogo de ação e aventura volta para o mundo dos vivos em mais um grande resgate da Nightdive Studios.

Jogo de ação e aventura volta para o mundo dos vivos em mais um grande resgate da Nightdive Studios.

De todos os remasterizados lançados nesses últimos anos, eu não esperava ver Shadow Man. É um bom jogo e fez sucesso na época, mas estava esquecido. Teve apenas uma sequência no Playstation 2 e nunca mais se ouviu falar de Shadow Man nos videogames.

O povo do Nightdive Studios vem fazendo um excelente trabalho de resgate de jogos, desde clássicos cults como System Shock 1 e 2, até os mais populares (na época) como a sequência de Turok. Foi uma grata surpresa ver Shadow Man Remastered ano passado. Fiquei tão empolgado com o relançamento que corri para a Steam e instalei o jogo no meu notebook da Xuxa, que não tankou as texturas em alta resolução e foi base [ou seja, travava na tela de carregamento].

Finalmente, em janeiro deste ano, Shadow Man Remastered chegou aos consoles e eu pude jogar tranquilamente.

A quem interessa um jogo de 1999 remasterizado?

Jogos em 3D tem a fama de envelhecer mal, tanto os gráficos como o gameplay. Então, fica difícil recomendar Shadow Man. Porém, tenho um bom argumento para além da nostalgia.

O gameplay de Shadow Man é um mix de jogos como Tomb Raider, Legacy of Kain e Banjo-Kazooie. A exploração e ação do jogo é similar à Tomb Raider. E quando digo Tomb Raider, falo da versão “classiquêra” — antes do reboot e dos remakes de aniversário — ou seja, da época em que o mundo pirava com os seios “poligonais” da Lara Croft. Sério, até a Playboy tentou surfar no hype.

O sistema de progressão é similar a Banjo-Kazooie e Super Mario 64. Você precisa coletar uma quantidade de itens-chave para desbloquear outras partes do jogo. No caso de Shadow Man, é necessário coletar as dark souls (sim, já existia dark souls antes de Dark Souls). Quanto mais dark souls você coleta, mais poderoso Shadow Man fica e tem acesso a outras áreas do jogo.

— OK, millennial… kd o argumento de venda?

Aqui vai um bom argumento: se trata de uma tendência de game design atualmente aclamado (tanto por crítica quanto pelo público). Um jogo de ação e aventura que não tenha milhões de pontos no mapa implorando por atenção, ou uma seta gritando na tela e indicando que você precisa fazer tal coisa para concluir a missão principal do jogo.

Nesse aspecto, Shadow Man envelheceu como um bom vinho. Você precisa explorar e ser minucioso em cada local para coletar mais dark souls e, assim, progredir no jogo. Como não existe um menu mostrando o mapa, você precisa decorar os locais de interesse e revisitar as fases do jogo para descobrir novos segredos, coletar mais itens e ganhar novos poderes. E essa é a graça do jogo! O sentimento de estar realmente explorando e não apenas estar sendo guiado. O que era limitação de game design da época, acaba sendo o maior diferencial do jogo 23 anos depois.

Shadow Man tem um sistema de fast travel. O início de cada área descoberta vira um checkpoint que pode ser acessado a qualquer hora, e isso facilita a vida no jogo. Outra coisa que torna a exploração divertida são os locais. E o level design é brilhante! A variedade dos locais e inimigos é suficiente para que a exploração não se torne cansativa.

O jogo em si não é difícil. Se for destacar algo que é um pouco frustrante, nesse caso, é que morrer te leva direto para o início da área em que você está. Mas esse é um problema que pode ser resolvido facilmente porque o jogo te permite salvar e carregar a qualquer momento [só não vai esquecer de salvar, pô].

Quanto aos gráficos? O trabalho da Nightdive Studios é manter o jogo próximo da experiência original, ou seja, modernizá-lo sem descaracterizá-lo. As texturas estão em alta resolução, ou seja, é 4K de verdade [a não ser que você tenha um PC da Xuxa que nem eu].

A trilha sonora foi remasterizada e o jogo roda a um framerate constante de 60 FPS em quase todas as plataformas, com exceção do Nintendo Switch. Também foram adicionados efeitos de sombra e luz que deixaram o jogo muito mais bonito. Os controles também mudaram e estão mais próximos de jogos modernos de ação e aventura. Mais uma coisa que merece atenção é a história de Shadow Man, que é inspirada na religião vodu de Nova Orleans.

Um pouco de história…

Quando estava pesquisando para escrever esse review, não tava esperando topar com grandes nomes dos quadrinhos. Pra quem não sabe, Shadow Man é baseado no quadrinho de mesmo nome. Um dos criadores é Jim Shooter, famoso e controverso editor de quadrinhos da Valiant Comics.

Quando a Acclaim Entertainment comprou a Valiant, eles reiniciaram Shadow Man e deixaram a HQ nas mãos do artista Ashley Wood — responsável pelas belas capas também. Para escrever, chamaram ninguém menos que Garth Ennis, co-criador de Preacher e The Boys (ambos são quadrinhos adaptados para séries de streaming da Amazon).

É nessa fase de Ennis e Wood que a história de Shadow Man é baseada. A estética do jogo se mantém fiel ao quadrinho, e essa capa consegue transmitir o feeling de como é o jogo. É engraçado notar essa tendência de anti-heróis dos anos 90. Talvez o sucesso de O Corvo tenha influenciado Spawn e Shadow Man, pois ambos possuem uma atmosfera mística com esse lance de voltar dos mortos. Enfim, continuando…

No jogo, você controla Mike LeRoi — que antes de virar Shadow Man, era apenas um estudante de literatura inglesa que abandonou a faculdade e gastou o dinheiro no vício em jogos e apostas. Depois que a mamata acabou, Mike se viu obrigado a trabalhar como taxista em Chicago. Envergonhado, ele esconde seu fracasso de sua família, que mora em Nova Orleans. Certa noite, um passageiro que LeRoi levava é assassinado, deixando uma maleta com uma quantia de $20.000 dólares. Sem contar conversa, ele pega a grana e volta para casa, tentando compensar o vacilo de ter gasto todo o dinheiro da faculdade com apostas, e acaba ajudando a família (inclusive, pagando a cirurgia de seu irmãozinho, Luke).

Mas é claro que a alegria durou pouco, pois os donos do dinheiro logo aparecem para cobrá-lo. Desesperado Mike procura ajuda de um Bokor (um feiticeiro vodu de aluguel). O tal do feiticeiro promete ajudá-lo, porém, não ajuda coisa nenhuma e a família do cara acaba sendo assassinada a tiros. O único que escapa da morte é Mike, que acorda do coma sem lembrar do ocorrido, pois perdeu a memória. Em seguida, o Bokor transforma nosso sofrido protagonista em zumbi escravo, que é usado como assassino de aluguel e atende pelo codinome Zero.

Outra personagem que aparece no jogo é a Mama Nettie, uma poderosa sacerdotisa vodu que tinha contas para acertar com o Bokor. No meio da briga, ela acaba ajudando Mike, livrando-o da maldição e implantando a máscara das sombras em seu peito, o transformando em um guerreiro vodu pertencente a uma linhagem de guerreiros vodu, senhor do deadside, Shadow Man.

Essa é a história de origem do protagonista. Já a história que vai guiar os objetivos do jogo é mais simples:

  • Evitar o apocalipse – Para isso, Mike precisa explorar e recolher as dark souls, matar cinco psicopatas + o vilão chamado Legion.

A propósito, um dos psicopatas e chefões que aparece logo nos primeiros minutos de jogo é Jack, o Estripador (inclusive, essa introdução me ganhou instantaneamente). Quando era criança e li o manual do jogo, achava que todos os psicopatas eram baseados em pessoas reais.

Low Poly Depression

Essa conta criou um termo que, em poucas palavras, significa a nostalgia que um jogo antigo desperta na gente.

Jogar Shadow Man novamente me lembrou de toda a minha história com o Nintendo 64, da época que eu escolhia jogo no modo intuitivo e acabava com um monte de jogos que eram versões de clássicos para PC, como: Forsaken, Turok 2, Quake e Doom 64 (além do próprio Shadow Man, claro). Coincidentemente, todos remasterizados pela Nightdive Studios.

Quando eu era criança, não entendia esses jogos e, após inúmeras tentativas, acabava largando todos de mão. Shadow Man, assim como outros jogos na época, precisava de um memory card para ser salvo e eu não tinha um. Agora, posso finalmente fechar um jogo que também me traz uma recordação específica da minha infância:

Era o ritual da minha família almoçar em algum restaurante de quilo do centro no dia do pagamento. Por causa do jogo, consigo lembrar do local e das pessoas que estavam no dia. Eu estava lá, junto com a minha mãe e minhas tias, almocei rápido e comecei a devorar o manual do jogo que — para a minha felicidade — era ilustrado e estava em português. O manual era bem completo e falava um pouco da história do jogo. Lembro também de ter ficado um tempo ali, olhando a caixa do jogo enquanto lia e relia aquele manual.

No fim das contas, passei 20 horas (muito bem aproveitadas, por sinal) explorando o deadside e coletando dark souls [de bônus, ainda destravei uma memória de infância].

Ainda que você não tenha nenhuma memória afetiva com esse jogo, ao menos, ele rende boas horas de diversão. É igual assistir a um filme antigo com disposição: você vence o preconceito e, de quebra, ainda descobre aquele que pode ser seu novo filme favorito. E pela minha experiência, posso afirmar que o tempo tornou Shadow Man único de muitas maneiras, vai por mim… é uma grande aventura que merece a sua atenção.

*Nota: As imagens de Shadow Man Remastered foram compartilhadas pelo share play do Xbox.
Ele está chegando, perseguindo criminosos no mundo espiritual e no mundo real. Um homem possuído está chegando. Ele tem uma máscara de vodu no peito e linhas de força nas costas. Shadow Man está chegando e perseguindo o mal desde Liveside até Deadside. Para impedir um apocalipse. Para salvar sua alma.
Consegui fazer um review de um jogo de ação e aventura sem comparar com Zelda Breath of The Wild e Dark Souls... Troféu desbloqueado! 🏆
Marlon Oliveira
Publicitário freelancer e futuro editor de livros. Também é colecionador de quadrinhos e mangás, além de um amante nato de videogames, literatura, filmes e séries.

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