Avatar: O Caminho da Água | Uma imersão subaquática deslumbrante e centrada na família

Diretor James Cameron revisita Pandora após mais de uma década com um filme cujo o coração está centrado nas relações familiares.

*AVISO: este texto não contém spoilers. Leia sem medo e sem culpa. 😉

Quando olhamos para a evolução do cinema desde sua concepção, imediatamente algumas obras vão aparecer em sua mente, seja pela história contada, pela tecnologia utilizada ou uma trilha sonora marcante. Com o passar dos tempos, a bilheteria alcançada pelos filmes também passou a ser uma espécie de termômetro de fenômenos dessa evolução, ainda que de forma equivocada em alguns momentos.

É indiscutível que Avatar, lançado no fim de 2009 pelo diretor James Cameron, figura como uma dessas obras memoráveis que revolucionaram a indústria cinematográfica por conter, em partes, a maioria dos pontos citados acima. Temos um filme que desencadeou o uso de um modelo melhorado de 3D no cinema, que trabalhou um aperfeiçoamento da atuação por captura de movimentos, e que atiçou a disputa dos estúdios pelo topo de maior bilheteria da história do cinema — que ainda segue sendo do longa em questão, mesmo 13 anos após seu lançamento.

Diante desses feitos, sempre se questionou qual seria a próxima obra que desbancaria Avatar. A verdade é que ainda não tivemos, mesmo que algumas chegassem a flertar com isso. Ou será que sim? Bom, temos um possível candidato. E curiosamente se trata de nada mais nada menos que a sequência do mesmo, Avatar: O Caminho da Água, também dirigido por James Cameron e que traz de volta os atores Sam Worthington e Zoe Saldaña em mais uma aventura por Pandora.

Uma sequência que, para muitos de nós, parece chegar de forma atrasada; mas não para Cameron. Afinal, o cineasta é um especialista no que diz respeito a usar o tempo a favor de suas obras. Ele se utiliza do avanço tecnológico em prol de uma experiência única. Não é a toa que o mesmo possui em seu hall de produções: O Exterminador do Futuro (1984), Titanic (1997), Aliens, O Resgate (1986) e o próprio Avatar (2009), que ganharam a luz do dia por meio do uso das ferramentas certas, na hora certa, e que hoje são o que são.

No caso dessa sequência, vemos o cineasta abraçar de vez uma franquia para chamar de sua. Tendo preparado não apenas um único filme, mas material para quatro sequências. Sendo o segundo já nos cinemas e o terceiro encaminhado para um lançamento no ano de 2024. O planejamento de Cameron começou em 2012, sendo as filmagens de Avatar: O Caminho da Água iniciadas apenas em 2017. Um empenho raro na indústria e que ressalta não só o otimismo do cineasta, mas sua paciência e talento.

Todo esse empenho pode ser visto em tela, e de preferência na maior possível! Isso porque o filme foi inteiramente filmado em Imax e 3D Fusion, além de toda a ambientação do longa ser em grande parte debaixo d’água, o que exigiu o uso de equipamentos específicos para esse tipo de filmagem e técnicas de prender a respiração para os atores, que treinaram por meses para as gravações. Logo, temos um outro nível de filme em relação a efeitos especiais, com cenas que fazem o retorno à Pandora soar muito mais “realista”, rica em detalhes. A evolução estética é impactante já nos primeiros minutos e consegue ser ainda mais quando James Cameron nos convida a mergulhar nas águas desse planeta.

Uma novidade é a utilização de 48 quadros por segundo nesse filme, quando o normal para o cinema são 24 quadros, o que pode ocasionar numa estranheza inicial, mas que vai mudando quando você se permite viver a imersão, que por sinal é construída de forma gradativa por Cameron. É como se o diretor estivesse consciente desse fator inicial estranho e vai aos poucos permitindo que o espectador se acostume com tudo o que é colocado em tela, de acordo com a narrativa e sua ambientação. A sensação que dá é que estamos dentro de uma simulação. E isso é fantástico, porque permite quase que uma experiência de parque de diversões numa sala de cinema. Dificilmente aparecerá outro filme com a mesma qualidade técnica — então, se você tiver a oportunidade de pagar pelo ingresso mais caro para assistir na maior sala possível e em 3D, faça isso.

História e Elenco

Muito se fala dos méritos tecnológicos de Avatar, e não é pra menos. Mas se teve algo que prejudicou em partes o primeiro filme, foi trabalhar de forma rasa a relação dos personagens. Isso fica ainda mais evidente quando você assiste a versão estendida de colecionador, que, com breves cenas que foram descartadas da versão final, fazem você entender melhor as motivações de todos os personagens, principalmente o final de Jake Sully. Mas isso muda no segundo filme.

Pra começar, Avatar: O Caminho da Água tem uma sinopse simples, tal qual o primeiro filme. Após formar uma família, Jake Sully e Ney’tiri fazem de tudo para ficarem juntos. No entanto, eles devem sair de casa e explorar as regiões de Pandora quando uma antiga ameaça ressurge, e Jake deve travar uma guerra difícil contra os humanos.

A partir dessa sinopse, já temos ideia de que o coração dessa obra é a família. E como é legal ver todas as nuances dessa instituição, até mesmo num planeta imaginário de seres azulados. Existe um certo carinho para com os dilemas de todos os personagens, inclusive para com a fauna e flora de Pandora. É um filme que soa piegas, mas com um coração enorme. Tem espaço para todos, tal qual a família de Jake Sully, que é enorme!

Aliás, precisamos falar do elenco. A adição dos novos nomes foi assertiva, ainda que você fique com dúvidas em saber qual o ator por trás daquele Na’vi (raça alienígena humanoide que habita Pandora). Os filhos de Jake (Sam Worthington) e Ney’tiri (Zoe Saldaña) são extremamente carismáticos, e os atores mirins — que são muitos! — fazem da sua união uma espécie de “turminha do bairro” em Pandora.

Entre os personagens centrais da parte aquática desse segundo capítulo, estão os lideres do clã Metkayina. Cliff Curtis interpreta Tonowari, o líder guerreiro, enquanto Kate Winslet — que já trabalhou com o diretor James Cameron em Titanic (1997) — interpreta Ronal, a líder espiritual e companheira do personagem anterior. Ambos desempenham um papel crucial para a trama, assim como sua família.

Entre os nomes que retornam do primeiro filme está Sigourney Weaver, a musa dos filmes de James Cameron, que anteriormente interpretou a Dra. Grace Augustine, botânica e diretora do projeto Avatar, e agora vive a nova e interessantíssima personagem Kiri.

Conclusões

Por mais primoroso que Avatar: O Caminho da Água seja, não podemos deixar de levar em consideração que ele possui, sim, algumas ressalvas. A primeira delas é a duração do filme, que chega a marca de três horas e dez minutos, podendo assustar alguns espectadores. Mas, na minha humilde opinião, não chega a ser um estrondoso problema, pois ao fim do longa a sensação que se tem é de ter participado de uma jornada, cujo o cansaço faz parte, não pela duração, mas pela experiência que, como dito anteriormente, se assemelha a de um parque de diversões digital.

Outra ressalva está nos vilões desse capítulo. Você compra as suas ideias, as suas motivações, mas ainda é demasiadamente caricato. Porém, considerando que a maioria dos personagens de Cameron são assim, você meio que releva. Porque, por mais simples que os personagens e a história sejam, a forma de contar do diretor é única.

Essa é a graça de Avatar, uma história simples, mas muito bem contada. E para um ambientalista nato como Cameron, nada melhor que trazer suas mensagens em uma obra cheia de atrativos técnicos que despertam a atenção do público. Aliás, o amor de James Cameron pelo mar ficou ainda mais evidente nessa sequência. Isso vai desde a forma como os Na’vi interagem com esse meio e em como a fauna e a flora marinha parecem conversar com você.

Em resumo, vale a pena conferir essa obra nos cinemas. Se vai ser um estrondoso sucesso como o primeiro, ainda não sabemos. Se superou? Eu diria que elevou o nível que só poderia ser batido exatamente por outro filme de Avatar.

É claro que para uma franquia de escala gigantesca como a do mundo de Pandora sobreviver, tudo depende do desempenho nas bilheterias. É a triste realidade da indústria que preza mais o lucro do que a experiência. E Cameron tem total consciência disso. Caso esta sequência não apresente bom desempenho nesse quesito, o terceiro filme pode encerrar toda a franquia de forma satisfatória, segundo as palavras do mesmo. Mas a real é que depois desse retorno à Pandora, a vontade que se tem é de passar mais um tempinho por lá. E se for a cada dois anos como prometido, já temos o nosso destino de férias definido.

Avatar: O Caminho da Água
12 2022
Ficção científica, Ação, Aventura

Sinopse

Após formar uma família, Jake Sully e Ney'tiri fazem de tudo para ficarem juntos. No entanto, eles devem sair de casa e explorar as regiões de Pandora quando uma antiga ameaça ressurge, e Jake deve travar uma guerra difícil contra os humanos.
Diretor: James Cameron
Roteiro: James Cameron, Rick Jaffa, Amanda Silver, Josh Friedman e Shane Salerno

Elenco principal

  1. Sam Worthington

    Sam Worthington

    Jake Sully

  2. Zoe Saldaña

    Zoe Saldaña

    Neytiri

  3. Sigourney Weaver

    Sigourney Weaver

    Kiri

  4. Stephen Lang

    Stephen Lang

    Colonel Miles Quaritch

  5. Kate Winslet

    Kate Winslet

    Ronal

  6. Cliff Curtis

    Cliff Curtis

    Tonowari

  7. Joel David Moore

    Joel David Moore

    Norm Spellman

  8. CCH Pounder

    CCH Pounder

    Mo'at

  9. Edie Falco

    Edie Falco

    General Frances Ardmore

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Felipe Moura
Jornalista, cinéfilo e pseudo nerd. Entusiasta dos anos 80, apesar de ter nascido nos anos 90. Fã de sagas espaciais, terra média e mundo bruxo. Assiste a todo tipo de filme, com exceção de alguns do gênero terror. Aprecia quase todas as vertentes do rock 'n' roll, músicas alternativas e uma boa MPB. Coleciona livros, HQs e câmeras antigas. Sua paixão é o cinema e não pensaria duas vezes se pudesse viver em um. Nas horas vagas arrisca ser fotógrafo, faz alguns rabiscos e escreve análises.

1 COMENTÁRIO

  1. Filme incrível, mas difícil de digerir totalmente em só uma ida ao cinema. Necessário ver mais de uma vez para poder conciliar tudo que se vê na tela.

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