Coraline | O macabro terror infantil de Neil Gaiman

Antes de mais nada, preciso destacar que Coraline é um filme assustador. O próprio diretor da animação em stop motion, lançada em 2009, recomenda que seja assistida por “crianças corajosas de qualquer idade”. Neil Gaiman a escreveu para sua filha Holly, quando ela tinha apenas cinco anos, pois a menina gostava de histórias assustadoras de bruxas e garotinhas corajosas. Porém, eu diria que não é bem assim…

O livro conta uma das histórias mais tenebrosas que já li, onde uma menina (Coraline) é ignorada pelos pais que estão sempre trabalhando e nunca têm tempo para ela. Coraline, então, acha em sua nova casa (Pink Palace) uma porta que a leva para uma dimensão (Outro Mundo), onde ela encontra a Outra Mãe e o Outro Pai — aparentemente cópias de seus pais — esperando por ela com um banquete, muita atenção e carinho. A única coisa que ela precisa fazer é colocar botões negros no lugar dos olhos, assim como todos daquela dimensão.

Henry Selick, diretor de O Estranho Mundo de Jack e James e o Pêssego Gigante, usa de toda a sua genialidade para trazer a mesma sensação agoniante da escrita de Neil Gaiman para o filme. Vale lembrar que Gaiman foi convidado por Selick até o estúdio — onde a animação em 3D foi produzida — e ficou maravilhado com o projeto.

Existem algumas diferenças entre o filme e o livro que provam o quanto vale a pena ler o livro se você só viu o filme, ou ver o filme se você só leu o livro. A primeira delas é que a animação de Selick é, em si, uma obra de arte em sua produção e direção, na trilha sonora de Bruno Coulais, mas, principalmente, no processo criativo que fez algumas adaptações da história original (como o pequeno Wybie que não existe no livro, mas que é essencial no filme, pois faz o papel que o narrador faz no livro em algumas partes). A imensa preocupação de Selick com a imagem — tão forte quanto Gaiman com sua escrita — é fascinante, e com toda certeza cativa muito além da história. Por outro lado, o livro apresenta muito mais a proposta desejada pela filha de Neil: uma história assustadora, maravilhosa e gostosa de ler, com uma garota corajosa que luta contra seus medos.

“Ser corajoso não significa ter medo. Ser corajoso significa estar com medo e, mesmo assim, fazer o que é certo.” — Neil Gaiman

Diversas teorias sobre o significado do Outro Mundo (da Outra Mãe, do Outro Pai e da vida de Coraline) foram criadas e, realmente, várias delas fazem sentido com o nosso mundo, nossas dores e os medos que enfrentamos. Na introdução feita por Neil Gaiman na edição comemorativa de 10 anos (no Brasil, publicada pela Editora Intrínseca), Neil conta que diversas mulheres disseram que Coraline as ajudou a passar por momentos difíceis em suas vidas, e que quando estão com medo, pensam em Coraline e fazem o certo. Também nessa edição, o ilustrador Chris Riddell nos apresenta seus traços — verdadeiras obras de arte — a cada capítulo do livro.

Se os prêmios Hugo, Nebula e Bram Stoker Award não o convencerem a ler essa obra da literatura fantástica, e todas as nove indicações ao Oscar não te causarem certa curiosidade sobre essa maravilha da cinematografia, é porque talvez não seja a sua vibe mesmo. Mas acredite nas palavras deste mero fã de terror e animação que vos fala, quando digo que Coraline é essencial para todos.

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