21 de junho de 1948: surgimento do LP e a nova era da indústria fonográfica

Advento marcou gerações e se estendeu por quase quatro décadas.

Há exatos 73 anos, no dia 21 de junho de 1948, a Columbia Records apresentava ao público, no hotel Waldorf Astoria, em Nova York, os primeiros discos de longa duração, chamados de Long Play, com 12 polegadas e 33⅓ rpm (rotações por minuto). Dessa forma, o som estereofônico surgiria com o lançamento do LP, fazendo com que o velho disco de acetato, de 78 rpm — que datava desde 1890, com ruídos característicos e breve duração de apenas quatro minutos em cada face -, se tornasse um produto ultrapassado.

O advento marcava o início de uma nova era na indústria fonográfica, se estendendo por quase quatro décadas até a chegada do CD nos anos 80.

Os LPs, por sua vez, eram mais leves, maleáveis e resistentes, possuindo capacidade de armazenar até 25 minutos de música em cada lado, graças a sulcos menores, além de uma qualidade sonora superior de alta fidelidade (High Fidelity).

Seu inventor foi o americano Peter Goldmark, que havia servido na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial. De volta à América, Goldmark investiu três anos de sua vida em pesquisas, até entregar à Columbia Records a novidade que revolucionaria a indústria fonográfica.

Peter C. Goldmark, inventor do LP em 33⅓ rpm, com pilhas do seu invento – Foto: © Reprodução/Internet

Columbia Records e a ascensão dos LPs

Ted Wallerstein, presidente da Columbia Records na época, teria compartilhado com seus engenheiros e assessores uma ideia bastante simples: gostaria de ouvir todo um movimento de uma sinfonia em um único lado do álbum. Em 1948, a gravadora, então, apresentou o formato de gravação Long Playing “microssulco” LP, que girava em 33⅓ rotações por minuto, o que viria a ser o padrão para os toca-discos por cerca de meio século.

No início dos anos 40, a Columbia havia tentado desenvolver gravações em alta fidelidade, criando, assim, a ponte que levaria ao lançamento bem-sucedido do LP naquele ano. Os novos vinis, agora não mais de uma música só, passaram a ser tratados como obras. Diversos artistas — dentre cantores, músicos de jazz e grandes orquestras — conquistaram espaço e plateias que, até então, pareciam impossíveis de alcançar.

Inclusive, um dos discos que ajudou a firmar o novo padrão para os amantes de música foi a regravação em LP de dez polegadas do The Voice of Frank Sinatra (“A Voz de Sinatra”, em português), sendo um dos primeiros álbuns pop comercializados no novo formato. Até o final de 1948, a empresa já havia vendido 1,250 milhão de LPs.

Um dos primeiros álbuns vendidos em LP – Foto: © Reprodução/Internet

Contudo, os novos LPs da Columbia eram, particularmente, adequados às longas peças de música clássica. Os primeiros álbuns apresentaram artistas como Eugene Ormandy e a Orquestra Sinfônica da Filadélfia; Bruno Walter e a Orquestra Sinfônica de Nova York; e Sir Thomas Beecham e a Royal Philarmonic Orchestra. O sucesso de tais discos finalmente persuadiu a Capitol Records a lançar seus LPs em 1949. A RCA Victor fez o mesmo no ano seguinte, seguida por outros grandes selos: a Decca (da Inglaterra) e a Deutsche Gramophon (da Alemanha).

Ainda naquela época, a RCA lançava o primeiro LP de 45 rpm, que tinha duração menor. A partir daí, as rotações foram diminuindo e, assim, consolidava-se o mais novo, qualificado e econômico meio de reprodução musical: o famoso disco de vinil.

Produzido com microssulcos em forma de espiral, o LP permitia que a agulha do toca-discos lesse a informação gravada. A vibração provocada pelo toque da agulha no disco era transformada em sinal elétrico que, amplificado, reproduzia música.

Ao longo dos anos, a Columbia juntou-se à Decca e à RCA Victor, especializando-se em álbuns dedicados aos musicais da Broadway com cantores dos elencos originais. Na década de 50, a Columbia começaria a lançar LPs com as trilhas sonoras de filmes de sucesso mundial.

Os primeiros vinis no Brasil

Os discos de acetato pararam de ser fabricados no Brasil a partir de 1964. O primeiro registro de um disco gravado em terras brasileiras foi em 1902, comandado pelo cantor Manuel Pedro dos Santos, mais conhecido como Bahiano.

O Brasil foi o quarto país a aderir ao novo sistema inventado pela Columbia (depois dos EUA, Inglaterra e França).

Primeiro LP lançado no Brasil – Foto: © Reprodução/Internet

Os primeiros vinis vieram em 1951. Em janeiro do mesmo ano, o álbum Carnaval em Long Playing foi o primeiro LP brasileiro a ser lançado pela Capitol/Sinter, apresentando artistas e grupos do calibre de Heleninha Costa, Oscarito, Geraldo Pereira, Os Cariocas, dentre outros. Era um disco de sambas e marchas feitos para celebrar o carnaval daquele ano. “Isto é som estereofônico” era o título da gravação que, em 1957, apresentava mais essa novidade aos ouvintes brasileiros.

Em janeiro de 2021, comemorou-se os 70 anos da entrada do vinil em nosso país.

A chegada do CD na indústria fonográfica

Em meados de 1980, com a chegada do CD (Compact Disc) à indústria fonográfica, o vinil parecia tornar-se obsoleto. Ao contrário do novo meio de reprodução musical, os LPs eram frágeis e qualquer arranhão poderia prejudicar a qualidade sonora, já que demandavam de um cuidado extremo, pois precisavam ser constantemente limpos e guardados na vertical.

Já o CD, por sua vez, conhecido como o primeiro formato digital, apresentava maior capacidade de armazenamento e tempo de duração, além de um som inteiramente livre de ruídos.

Em 1º de outubro de 1982, foi lançado o primeiro Compact Disc (52nd Street, do cantor e compositor Billy Joel). O popular CD surgiu de uma parceria entre a Philips e a Sony, que também lançou, no mesmo dia, o primeiro CD player no Japão, o Sony CDP-101.

Capa do primeiro CD comercializado, ’52nd street’, de Billy Joel – Foto: © Reprodução/Internet

Analógico vs. Digital

Em meio à era digital, o LP continua subsistindo e parece ter ganhado força nos últimos anos. Mesmo com o advento da internet, com os álbuns sendo facilmente descarregados, e o declínio da indústria fonográfica, as lojas de música resistem em aposentar os bons e velhos discos, perpetuando cada vez mais a cultura do vinil.

Esse culto está muito ligado à rivalidade entre o digital e o analógico. Os puristas defendem que o meio digital não tem tanta qualidade quanto o analógico porque elimina as frequências mais altas e mais baixas, excluindo os ecos e as batidas graves, tornando a música menos natural aos ouvidos.

Atualmente, os colecionadores demonstram um interesse maior pelo vinil do que pelos CDs. Um dos motivos é que, nos anos 70, as capas dos discos eram objeto de um cuidado artístico esmerado. Por isso, tornavam-se tão importantes e minuciosas que os fãs lhes dedicavam horas para tentar descobrir os menores detalhes escondidos.

E foi assim que o disco de vinil acabou se tornando um objeto tão apreciado e almejado por muita gente devido seu contexto histórico, além de sua raridade — o que lhe atribui um valor ainda maior nos dias de hoje, provando que um bom vinil nunca morre!

Narel Desireehttps://linktr.ee/nareldesiree
Jornalista com ascendente em audiovisual e lua em fotografia. Nerd convicta, é aficionada pela cultura geek dos anos 80 e 90 desde que se entende por gente. Apaixonada por filmes, séries e livros de true crime, suspense e terror psicológico, em especial, do subgênero slasher. Fangirl de Cazuza e Pink Floyd, é meio bossa nova e rock ‘n’ roll. Nas horas vagas, gosta de criar playlists no Spotify e assistir às novelas antigas da Globo. Adora cerveja importada, discos de vinil e jogos de tabuleiro. É membro e CEO founder do Sessão das Dez.

1 COMENTÁRIO

  1. Amei a história! Eu amo história, na verdade. Porém, nunca tinha visto algo sobre os LPs. Parabéns pela pesquisa!

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