Eduardo e Mônica | Adaptação da canção de Renato Russo acontece na medida certa

E quem irá dizer que não existe razão?

Pela segunda vez, uma música da banda Legião Urbana ganha vida na tela do cinema, dessa vez, com a história do casal de divertida incompatibilidade, Eduardo e Mônica. A missão ficou a cargo do diretor René Sampaio, que também adaptou Faroeste Caboclo para os cinemas no ano de 2013 e vem se consagrando como um especialista no que podemos chamar de “RenatoRussoverso”.

Não seria absurdo algum falar com detalhes sobre a história de Eduardo e Mônica, tendo em vista a popularidade da canção nos últimos 30 anos e o desfecho que todos já conhecem. Mas aí é que tá a graça dessa adaptação para o cinema: Eduardo e Mônica tem muito mais a nos mostrar do que nós supostamente achamos que conhecemos. Sabendo disso, nada de spoilers nesse texto.

O casal ainda é o mesmo da canção: Eduardo é o garoto de 16 anos, preguiçoso, que joga futebol de botão com o avô, ama novelas e que está perto de prestar o vestibular, enquanto Mônica é a mulher culta, do signo de leão, que trabalha com medicina, fala mais de uma língua e anda de moto pela cidade.

De antemão, o que posso falar do longa-metragem é que ele não é literal. E com razão. A letra da música está lá e é muito divertido quando você pega todas as referências. Mas a graça do filme está na liberdade poética que os roteiristas tiveram, permitindo preencher as lacunas entre os versos, trazer diferentes nuances para os protagonistas, deixando-os mais palpáveis e ainda mais interessantes.

Se por um lado a canção virou um símbolo dos casais apaixonados, supostamente romantizando a ideia de que os opostos se atraem, o filme mostra que os opostos podem sim se atrair, mas é necessário trazer isso para a realidade das coisas. Não podemos achar que as soluções de um casal tão diferente entre si pudessem dar certo como num passe de mágica. O filme tem total consciência das “disfuncionalidades” de um relacionamento, independente de idade, mentalidade, gênero e qualquer estereótipo. É exatamente isso que nos aproxima ainda mais da história.

Com pitadas de romance, humor, drama, mas também política e até um certo tipo de antagonismo, ouso dizer que o longa-metragem é a essência de Renato Russo. Ainda mais quando você contextualiza essa história numa cidade de Brasília em meados dos anos 80, com suas diferentes manifestações políticas e culturais, cruciais para o surgimento da banda Legião Urbana.

Aliás, como é legal circular pela Brasília apresentada pelo jogo de câmera de René. Como é bonita a fotografia desse filme. Sem contar as incríveis atuações de Alice Braga e Gabriel Leone que são a essência de tudo.

Alice é uma atriz extraordinária em tudo que faz, e aqui ela sabe entregar uma Mônica instigante, às vezes carrancuda, que te faz pensar exatamente no que ela viu de tão especial num garoto como Eduardo. Falando nele, o ator Gabriel Leone soube trazer a essência do adolescente bobão da canção, mas ao mesmo tempo trazendo algumas camadas, inclusive, tão profundas quanto as de Mônica. Sabe o “carinha do cursinho” que convida Eduardo para uma festa com gente estranha logo no começo da canção? É um personagem para se prestar atenção, com excelente atuação de Victor Lamoglia.

Bom, adoraria falar mais sobre Eduardo e Mônica, mas não posso. Seja você fã ou não da canção, recomendo que tire um tempo para apreciar essa obra. Esse é um dos casos que ressalta o quanto o cinema nacional tem a nos oferecer em termos de conteúdo com qualidade. Além de ser uma bela homenagem à cultura pop brasileira.

Particularmente, saí do cinema emocionado não só pelo respeito ao material de origem, mas por ter assistido uma história de amor que fala das diferenças de maneira sublime. Todos nós já fomos ou somos um Eduardo ou Mônica na vida. E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?

Eduardo e Mônica
14 2022
Romance, Drama

Sinopse

Em um dia atípico, uma série de coincidências levam Eduardo a conhecer Mônica em uma festa. Uma curiosidade é despertada entre os dois e, apesar de não serem parecidos, eles se apaixonam perdidamente. Em Brasília, na década de 1980, esse amor precisa amadurecer e aprender a superar as diferenças.
Diretor: René Sampaio
Roteiro: Jessica Candal

Felipe Moura
Jornalista, cinéfilo e pseudo nerd. Entusiasta dos anos 80, apesar de ter nascido nos anos 90. Fã de sagas espaciais, terra média e mundo bruxo. Assiste a todo tipo de filme, com exceção de alguns do gênero terror. Aprecia quase todas as vertentes do rock 'n' roll, músicas alternativas e uma boa MPB. Coleciona livros, HQs e câmeras antigas. Sua paixão é o cinema e não pensaria duas vezes se pudesse viver em um. Nas horas vagas arrisca ser fotógrafo, faz alguns rabiscos e escreve análises.

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