Há um pouco mais de quatro anos, pela primeira vez no Universo Cinematográfico dos X-Men, assistíamos a um filme como o próprio Hugh Jackman disse: “focado em um personagem, não em uma história”. Logan nos apresenta muitas premissas sobre como é a vida por trás de matanças, como é ser quase imortal e como esses dois fatores podem pesar na consciência e no espírito de um ser que só procura paz no fim dos seus dias. Tendo leves inspirações em Velho Logan, a obra cinematográfica retrata um mundo pós-apocalíptico, onde mutantes já não nascem mais — enquanto os que sobraram, fazem parte da velha guarda (e bota velha guarda nisso!).
Um dos ensinamentos mais claros do longa é esse: não importa se você consegue levitar prédios, ter um corpo indestrutível ou o cérebro mais brilhante e evoluído do mundo. Quando a idade chegar pra você, e ela vai chegar, tudo isso não bastará para manter sua integridade, e isso é algo explicito e muito bem retratado. Durante todo o percurso do filme, vemos um Logan cansado — fisicamente e psicologicamente -, num ponto onde sua própria vida acaba se transformando em sua própria prisão.
Hugh Jackman fez um trabalho incrível, apresentando ao público um “carcaju” que muitos acreditavam ser impossível de existir. Além dele, temos o ilustre Patrick Stewart, fazendo de longe sua melhor interpretação de Professor X, transmitindo com maestria toda dor e sofrimento que os anos lhe causaram. A decadência desses dois personagens foi o que moldou a história e a personalidade de ambos para o filme. É ela que nos apresenta personagens mais humanos, traços que vão além das garras de adamantium e super poderes. Em cada performance vemos dois homens que sentem a autoperda, que sentem a reação de suas atitudes tanto quanto nós, meros mortais.
Neste mundo de 2029, apesar de não ter mais mutantes naturais como o próprio vilão diz, o governo começou a investir pesado em projetos de criação e clonagem de mutantes (já vimos isto antes, não?). E é aí que a pequena estrela, Dafne Keen (X-23/Laura), entra em ação. Com apenas 11 anos de idade, a atriz mostra muita garra (literalmente) no papel. Ainda que interprete uma menina muda em quase todo o filme, a pequenina encarna o espírito feroz da coisa, nos transmitindo — em apenas um olhar — toda a raiva e dor da besta que habita dentro dela, nos trazendo à memória um Wolverine em seus primeiros momentos como Arma-X: um ser incontrolável, capaz de cometer uma chacina sem esboçar um pingo de remorso. Isso, a personagem consegue transmitir muito bem nos momentos mais simples, onde ela é uma criança tentando ser apenas uma criança, mas que, no fundo, ela sabe que nunca poderá ser uma menina “comum”.
Em Logan, os personagens são muito bem aprofundados com um psicológico imerso nas consequências de ser o que eles são. Porém, apesar de certa magnitude, o filme peca ao apresentar um roteiro simples, sem muitos mistérios ou detalhes na trama, a fim de confundir os telespectadores. A única coisa que não fica evidente é sobre o passado dos X-Men, o que exatamente aconteceu, já que o que nos é contado apenas serve para tirarmos nossas próprias conclusões. E o vilão, apesar de não ser lá “grande coisa”, ainda consegue passar uma imagem ameaçadora e ambiciosa.
“Ah, mas em um filme da Marvel não pode faltar humor, certo?”
Bom, acho essa frase um pouco exagerada, mas é claro que no longa também há seus momentos engraçados. O que, na verdade, ocorrem num timing perfeito, pois não servem como alivio cômico e nem mudam o foco da trama. Eles servem para mostrar a amizade e a união que existe entre aqueles personagens, o quanto eles são uma família e uma fortaleza contra aqueles que tentam prejudicá-los. Isso é outra lição que o Professor Xavier tenta passar para a pequena Laura: tudo o que acontece naquele momento, tudo o que eles passaram, no fim, é um ensinamento para a vida. E que aceitar e viver com isso, muitas vezes, pode não ser a melhor solução.
Em suma, Logan é um ótimo drama de ação com heróis decadentes, deixando mais do que óbvio que uma nova geração com muito potencial virá para substituí-los.