Quentin Tarantino é um diretor conhecido pela maneira como utiliza suas referências, chegando muitas vezes até a ser acusado de “plagiar” cenas (e não homenageando, como ele costuma dizer). Embora seja fato as cópias, logo, é preciso saber não só copiar, mas saber como usá-las para fazer algo totalmente original. Os Oito Odiados é um longa que “copia” muitas coisas de outras obras, porém, o que faz com que o filme seja um ponto fora da curva é justamente o fato de ser a maior inspiração para que Tarantino seja o próprio Tarantino.
O próprio cria um roteiro baseado em “who does it?”, como em Cães de Aluguel, do qual os créditos remetem à tipografia de Pulp Fiction. Também vemos a questão do racismo em voga como em Jackie Brown, violento como Kill Bill, dividido em capítulos como Bastardos Inglórios e se passando próximo do período da Guerra Civil como Django Livre. Ainda assim, nenhum desses elementos parecem despropositados e nem a identificação macula o longa metragem de 2015, já que Tarantino quer que você perceba esses detalhes (caso contrário, ele não colocaria nos créditos a tagline “o 8° filme de Tarantino”). No entanto, é divertido encontrar referências a grandes clássicos como Sete Homens e um Destino e Três Homens em Conflito.
A trama conta como oito pessoas perigosíssimas são obrigadas a passar a noite dentro de um pequeno chalé nas montanhas para escapar de uma nevasca. A tensão entre os oito personagens é muito bem formada, graças aos diálogos que transitam com elegância entre as palavras ríspidas e mais comedidas. Logo, isso dá todo o ritmo do filme, que só mostra alguma ação de fato pela metade do mesmo.
A edição de Os Oito Odiados, aliás, merece um parágrafo a parte. A primeira metade beira o cansativo e arrastado: como dito, temos praticamente apenas diálogos nesta sequência, que correspondem aos três primeiros capítulos do filme. Porém, essa cadência parece premeditada — é como se buscassem alcançar o ritmo da prequel de Star Wars -, onde grande parte do longa fosse apenas criar a atmosfera para quando o mesmo acelera em sua conclusão. Um exemplo disto é justamente o início do filme (contendo o mais lento zoom out que eu já vi na minha vida…), mas quando chega na segunda metade, temos certeza de que é uma obra de Tarantino. Ainda assim, poderia ter um corte mais curto, na minha opinião…
A fotografia também é belíssima! A direção sabe conduzir muito bem o longa, o roteiro é competentíssimo. Porém, o que rouba a cena aqui são as atuações, principalmente a de Jennifer Jason Leigh. Sem dar spoilers que possam comprometer a experiência, posso dizer que é interessante ver como a atriz “engole” grandes nomes como Tim Roth e Michael Madsen, figurinhas carimbadas nos filmes de Tarantino.
Apesar de tudo, fica o aviso de que Os Oito Odiados não é um filme para todos. Como já havia dito, o começo arrastado pode ser cansativo para quem não é muito familiarizado com o ritmo “western”. Além da violência gráfica que, às vezes, chega a ser grotesca, o longa também tem tudo para causar polêmica e ser acusado de “xenófobo” por olhos desatentos — porém, o mesmo acaba com a impressão de que o assistimos de maneira mais engajada socialmente. Dessa forma, é quase impossível não reconhecer esta obra como a “oitava maravilha” de um dos melhores diretores da atualidade.