Há alguns anos, muitos estúdios de Hollywood começaram a olhar para seu catálogo de clássicos e começaram a criar um subgênero de filme, os “remakes”. Devido a qualidade duvidosa de muitos deles, o público começou a criar repúdio por essa palavra. Estava óbvio que seria necessário criar uma nova forma de “reviver” franquias antigas sem descartar a lembrança e a sensação de nostalgia que esses filmes proporcionam aos seus fãs. Foi apenas com Star Trek, dirigido por J.J. Abrams — por intermédio de sua produtora, a Bad Robot -, que começamos a entender como isso poderia dar certo: não descarte o que já foi, apenas crie uma nova história em um tempo distinto.
Com experiência em trabalhar em projetos onde os spoilers estragariam a experiência (temos como exemplos Lost e Alias), a Bad Robot se tornou especialista em criar uma aura de suspense envolto de seus mistérios, produzindo trailers que, de modo geral, não entregam nada além do visual de seus longas. O primeiro filme a ter essa prática introduzida foi Cloverfield — que se utilizou enormemente de vídeos virais para se autopromover, ressuscitando um estilo que criou um dos maiores clássicos do terror moderno, As Bruxas de Blair.
Em Rua Cloverfield, 10, essas duas tendências modernas se fundiram em um único filme. O longa funciona como um recomeço para uma franquia que, embora tenha obtido sucesso com o público, tinha uma história fechada em si mesma que não parecia ter muito para onde ir. Talvez, até mesmo por esse motivo, ninguém esperava por um filme como esse, que foi revelado para o mundo durante o Superbowl. Sendo assim, todo o enredo do filme se tornou um grande mistério, nos fazendo questionar: Qual a sua ligação com o original? Será que vai explicar o que aconteceu no final do primeiro filme? E, talvez a maior pergunta de todas: Será que vai explicar o que diabos era aquele monstro?
Saber a resposta para qualquer uma dessas perguntas estragaria (e muito) a experiência. E não serei eu a fazer isto com você. O que cabe salientar aqui é que, sim, o filme está inserido no universo da obra original Cloverfield, mas não é necessário tê-lo assistido para entender o que se passa ali, até porque o escopo do longa é completamente distinto.
Se na obra original, estávamos vendo um filme-catástrofe com a mecânica dos Found Footage, aqui nos aproximamos mais dos terrores claustrofóbicos e todo aquele drama de mundos pós-apocalípticos. Logo, isso me fez perguntar se o filme realmente nasceu com o propósito de ser o que é ou se era apenas mais um roteiro, onde os produtores viram a chance de chamar a atenção de quem assistiu ao longa de 2008.
Na história de Rua Cloverfield, 10, a personagem Michelle (interpretada por Mary Elizabeth Winstead, ninguém menos que a mítica Ramona Flowers de Scott Pilgrim) foge de seu esposo após uma discussão, até que, durante o trajeto, ela sofre um acidente de carro. Ao acordar, Michelle se vê amarrada em um pequeno quarto e conhece Howard (John Goodman, de Argo, Jurassic Park, Inside Llewyn Davies, dentre outros clássicos), um homem que garante tê-la salvado após o acidente, uma vez que a Terra foi atacada e a atmosfera tornou-se venenosa. No local, ela também encontra Emmet, outra figura misteriosa.
A partir daí, o filme brinca todo o tempo com a questão do terror claustrofóbico, usando e abusando de closes para dar a impressão de desconforto e aperto, além de uma fotografia escura e opressora (fazendo qualquer raio de Sol que aparece ao longo do filme explodir na tela).
O roteiro consegue levar bem seu ritmo, uma vez que há apenas três personagens em cena na maior parte do longa. Seus diálogos servem para criar empatia e, rapidamente, dar um aspecto de tensão e perigo. Ainda que não vá se tornar um clássico do gênero, o filme consegue ter bons momentos em meio aos diálogos dos personagens, mostrando que situações assustadoras podem ocorrer mais pelo modo como a cena é composta do que através de um aparecimento repentino.
E assim, Rua Cloverfield, 10 acaba se tornando mais um acerto no catálogo de filmes misteriosos com o dedinho (ou a mão toda, nesse caso) de J. J. Abrams. Portanto, se você ainda não assistiu – mas ficou tentado após ler esse texto -, aconselho que não assista ao trailer e vá direto ao que interessa com a mente aberta, pois esse é um filme que faz da reviravolta seu sobrenome, pode acreditar! Ainda que o longa não tenha se tornado um grande clássico (ainda), com certeza ele faz valer a pipoca.