*AVISO: este texto não contém spoilers. Leia sem medo e sem culpa. 😉
Depois de anos sem um filme solo, Batman volta às telonas com um filme capaz de explorar exatamente o que faltava nas adaptações anteriores: um Batman muito mais próxima da figura investigativa das histórias em quadrinhos.
Antes de falar da trama de The Batman, é necessário resgatar a memória de que esse filme foge completamente da ideia anterior de fazer parte do universo compartilhado de filmes da DC. Não espere ver a Liga da Justiça ou qualquer outra citação a respeito neste filme.
Esta adaptação estava nas mãos do antigo intérprete do Homem Morcego, o ator e diretor Ben Affleck, que após algumas reações não positivas de Batman vs. Superman e complicações com Liga da Justiça, além de problemas pessoais, deixou a direção e o manto do herói. Dessa maneira, parecia distante a ideia de termos um novo filme do Batman.
Eis que surge a figura do diretor Matt Revees, consagrado por filmes como Cloverfield e a franquia Planeta dos Macacos, e fã assíduo do Batman. O diretor, por sua vez, aceitou a aventura de fazer um novo filme do herói morcego, desde que esse acontecesse de modo mais pessoal.
Para interpretar o vigilante mascarado, o ator Robert Pattinson foi o nome escolhido, cuja escalação causou reações adversas entre os fãs do Batman, principalmente pela memória da figura do vampiro Edward Cullen, da saga Crepúsculo, interpretado pelo mesmo. Mas falaremos disso mais adiante.
Em The Batman, Bruce Wayne está no início de carreira como o vigilante mascarado, mais precisamente entre o segundo e terceiro ano. Nesse cenário, uma série de crimes contra figuras importantes de Gotham se inicia, tendo Charada como autor. Em parceria com o comissário Gordon, Batman investiga a situação ao mesmo tempo em que lida com a Mulher Gato/Selina Kyle.
E isto é o máximo que posso falar da trama de The Batman, afinal, estamos falando de um filme de investigação policial ou um noir atual. É isso mesmo. Um longa-metragem que bebe da fonte de filmes como Zodíaco e Seven, passando por Chinatown e O Poderoso Chefão. E citar esses filmes não é exagero, você vai encontrar certa similaridade em algum momento, caso tenha assistido.
Mas para além das influências cinematográficas, o diretor Matt Reeves soube muito bem aproveitar seu material de origem, se utilizando de HQs clássicas do Homem Morcego como inspiração. Vale a pena você dar uma conferida em Batman: Ano Um e, principalmente, na história de Batman: O Longo Dia das Bruxas. Para quem não curte ler as HQs, ambas as histórias possuem adaptação em formato de animação, muito boas por sinal.
Aliás, tendo citado as HQs, este filme com certeza é prato cheio para os fãs. Isso porque existem diversos easter eggs que um leitor das aventuras do Homem Morcego vai captar logo nos minutos iniciais. Mas isso não significa que o filme não funcione para o público em geral, pelo contrário, este vai encontrar um lado do herói de capa preta não aproveitado nas adaptações passadas e que os fãs estavam ávidos para ver: O Batman detetive.
E é aqui que precisamos falar do projeto como um todo. A direção de Matt Reeves é a melhor possível, com o diretor tão à vontade que entrega um filme de quase três horas de duração. Toda a ambientação de Gotham, a maquiagem, a fotografia, a edição… Tudo é muito bem construído. Não é à toa que o longa recebeu recentemente o selo AMC Artisan Film, concedido pela rede de cinemas AMC Theaters, que permite um indicativo de chances no Oscar. Este é o segundo filme da DC a receber tal honraria, sendo Coringa o primeiro.
Se você estava cético com a escalação de Robert Pattinson para o papel principal, certamente você vai perceber, ao longo do filme, que estava extremamente equivocado. Pattinson é a escolha certa para o Bruce Wayne/Batman pensado por Matt Reeves. O herói que quase sempre acabou ofuscado por seus vilões e seus intérpretes, agora tem um foco muito maior, com Robert Pattinson entregando — o que ouso dizer ser — a melhor interpretação do herói até o momento.
Aliás, não só o nosso protagonista merece o reconhecimento. Que atuações poderosas temos em The Batman. Cada personagem está devidamente bem representado, desde os centrais até os secundários. Da Mulher-Gato de Zoe Kravitz, o Pinguim de Colin Farrell, James Gordon de Jeffrey Wright, o Charada de Paul Dano, até um mero político ou policial figurante do filme. Parabéns para a direção de casting, que trouxe nomes certeiros para este projeto.
Outro ponto que merece destaque é a trilha sonora composta por Michael Giacchino, que traz nuances de suspense e certa fantasia que, em alguns momentos, lembram o Batman de Tim Burton dos anos 80, passando pela série animada dos anos 90. Mesmo assim, é possível sentir uma pegada muito mais séria em relação às outras obras citadas, combinando perfeitamente com a proposta de investigação criminal presente no filme.
Para algumas pessoas, a duração do filme e a pegada noir pode, sim, acabar se tornando um problema, levando em consideração que esse longa foge completamente do carnavalesco universo de filmes de super-heróis da Marvel, tão idolatrado nos últimos tempos. Aliás, que bom que foge, afinal, filmes como The Batman se mostram necessários para quebrar paradigmas de que é necessário seguir um universo compartilhado ou o que muitos chamam de “fórmula certa”.
Gosto de ver a DC se arriscar em seus filmes fechados, permitindo a liberdade criativa de seus roteiristas e diretores. Coringa, O Esquadrão Suicida e a recente série do Pacificador mostram como os envolvidos em seus respectivos projetos colocam a sua visão particular, sem medo, mas com grande conhecimento do material de origem. Matt Reeves é um fã do Homem Morcego, e trouxe nesse filme exatamente o que faltava nas outras adaptações, dando um novo ar, uma abordagem corajosa ao sair do padrão blockbuster.
The Batman tem tudo para ser um sucesso estrondoso, ao mesmo tempo que é uma cutucada na ferida de quem está habituado com mais do mesmo. Ele pode até ser um pouco disso, levando em consideração por ser mais uma dentre várias adaptações de heróis no cinema, mas o futuro do Batverso é bem empolgante a partir desta nova adaptação.